Vale Tudo: Maria de Fátima planeja sabotagem na insulina de Solange para eliminar rivais
20 ago

O golpe mais cruel de Maria de Fátima muda o jogo do remake

Um segredo derruba a última barreira. Ao descobrir que o exame de esterilidade de Afonso era falso, Maria de Fátima passa do veneno cotidiano para a violência planejada. A revelação nasce de um suborno a um funcionário de laboratório e desmonta a versão vendida por Celina: Afonso não é estéril. Isso recoloca Fátima no centro da disputa por um herdeiro Roitman e dá um peso novo à sua gravidez. Ao mesmo tempo, surge o obstáculo definitivo: Solange, também grávida — e de gêmeos.

É aqui que a novela ergue o tom. Decidida a eliminar a concorrência, Fátima mira um ponto vulnerável da rival: o tratamento de diabetes de Solange. O plano é frio. Ela quer substituir a medicação por água para provocar descontrole glicêmico e um aborto espontâneo. É um risco real e grave. No mundo fora da ficção, interferir em insulina pode levar a hiperglicemia severa, cetoacidose e morte. Na trama, vira munição para um crime silencioso.

César Ribeiro entra na história como freio. Amante de Fátima, ele escuta a proposta, entende o impacto — e recua. Não é sobre moral elevada; é linha vermelha. Machucar bebês ainda não nascidos o tira do jogo, e ele nega qualquer ajuda no ato violento. O que não impede Fátima de seguir. Ela só reorganiza o tabuleiro e transforma César em distração útil, longe da execução.

O acesso à casa de Solange, facilitado por uma chave antiga, fecha a equação. A ex-amiga abre a porta errada sem saber. Enquanto César segura Solange e Sardinha na agência Tomorrow, Fátima entra, localiza os medicamentos e prepara a troca. O gesto é calculado, sem pressa, e revela uma vilania em novo patamar: não é mais trapaça social, é ataque direto à vida.

Esse salto de brutalidade não vem do nada. A própria trajetória de Fátima traça essa curva. Antes, num surto desesperado, ela jogou o próprio corpo escada abaixo no Theatro Municipal quando temeu que César fosse o pai do seu bebê. Agora, com a chance de carregar o herdeiro Roitman, ela empurra o mundo para fora do caminho. A ambição vira bússola e alvará.

A engrenagem do enredo toca a família. Celina, que fabricou o exame para proteger os Roitman, criou um problema maior. A mentira trouxe o efeito reverso: reacendeu a disputa por herança e colocou Solange e os gêmeos no alvo de Fátima. Esse fio puxa outro: o que Afonso sabia? E como ele reage quando passar a ver a noiva e a ex-namorada em lados opostos de uma guerra que usa até medicação como arma?

Se você acompanha a novela desde a estreia, reconhece a essência. A pergunta central continua a mesma: quanto vale o limite ético quando o prêmio é poder? O remake atualiza a linguagem, coloca redes sociais e imagem pública no centro da identidade de Fátima, mas preserva a espinha dorsal da história: ambição sem freio, mentira como método e uma elite cercada por cortinas de fumaça.

O arco de Solange dá densidade à trama. Profissional bem-sucedida, grávida de gêmeos, ela administra a diabetes com rigor. O enredo não infantiliza a personagem; mostra rotina, checagens, o cuidado com as canetas de insulina. Por isso o plano de Fátima soa ainda mais cruel: a tentativa de transformar um tratamento médico em armadilha. É violência que não deixa marcas aparentes, mas carrega potencial letal.

A presença de César como contraexemplo ajuda a calibrar a moral da história. Ele é pragmático e oportunista, mas não atravessa a fronteira do irreparável. A recusa não o absolve de outras faltas, claro. Ainda assim, a cena delimita quem está disposto a ir até o fim — e quem, por cálculo ou temor, para antes do ponto sem retorno.

O público vê, com isso, uma escalada clássica de vilã. Fátima domina a manipulação social, testa o corpo numa autoagressão e, por fim, dirige a violência para fora. A construção lembra a tradição das grandes antagonistas da teledramaturgia: quando a máscara cai, o que sobra é uma vontade cega por status, dinheiro e sobrenome.

Nos bastidores do enredo, há uma camada de saúde pública que a novela toca sem didatismo. A substituição de medicamentos por líquidos inertes, como água, é um método criminoso que já aparece em investigações reais pelo país, de consultas clandestinas a sabotagens domésticas. Em pacientes que dependem de doses controladas, o efeito é rápido e perigoso. Ao trazer isso para a ficção, a trama também acende o alerta para quem vive com condições crônicas e mantém rotina de remédios em casa.

Para os fãs do original, a atualização conversa com memórias fortes. A Maria de Fátima dos anos 80 escancarou um Brasil dividido entre aparência e ética. Aqui, o espelho é mais luminoso e veloz, com filtros e likes no lugar de salões e colunas sociais. Mas a pergunta que gruda continua idêntica: a recompensa justifica a ruína alheia?

O impacto dramático cresce porque tudo se torna pessoal. Não é só a fortuna dos Roitman no horizonte; é a maternidade como troféu. Fátima transforma o corpo em capital simbólico e o filho em título de propriedade. Solange, por sua vez, vive a gravidez como projeto de vida, cercada de laços afetivos e de uma rede de apoio que inclui Sardinha e colegas da agência. Essa diferença de chão dá peso emocional às próximas cenas.

Para quem gosta de mapear a trama, o quebra-cabeça está assim:

  • Fátima descobre, via suborno, que o exame de Afonso era falso.
  • Ela confirma a possibilidade de seu bebê ser herdeiro Roitman.
  • Solange anuncia gravidez de gêmeos, potencialmente de Afonso.
  • Fátima decide sabotar a insulina de Solange para provocar aborto.
  • César recusa participar, mas topa distrair Solange e Sardinha.
  • Fátima invade a casa da ex-amiga e encontra os medicamentos.

O que vem depois é inevitável: tensão. A novela tende a abrir espaço para consequências práticas — exames, mal-estar, suspeitas — e morais, com alianças quebrando e máscaras escorregando em jantares caros. A lógica do suspense pede rastros: uma câmera de prédio, uma inconsistência no frasco, uma mensagem no celular. É assim que vilões, por confiança demais, acabam deixando digitais.

Enquanto isso, Celina se enreda no próprio plano. A mentira que começou como proteção agora ameaça o destino de dois bebês. A experiência da personagem mostra como decisões tomadas no escuro se espalham como tinta. É possível que ela seja empurrada ao front para explicar o inexplicável — e nada abala tanto uma família quanto a verdade dita fora de hora.

Afonso, por sua vez, fica no olho do furacão. Entre a herança que carrega no nome e os afetos que tenta manter, ele se torna alvo e moeda ao mesmo tempo. A paternidade em disputa não é só jurídica; é emocional. E cada gesto dele pode redefinir laços e destinos.

Do ponto de vista de dramaturgia, o capítulo marca uma virada. O risco não é mais simbólico. É físico, imediato, quase silencioso. A direção investe em cenas de bastidores — portas abrindo, passos contidos, mãos mexendo em frascos — para erguer o suspense sem gritos. Funciona porque o perigo mora justamente no que não se vê.

Para além da trama, há o espelho social. A novela fala de poder, de privilégios que protegem e de como desigualdades abrem espaço para manipulação. Fátima aprendeu cedo a usar discursos e aparências. O remake atualiza isso para o universo digital: contratos de influência, stories coreografados, vida editada. Por trás, segue o velho jogo da conveniência.

E o público? Reage como sempre reage quando um folhetim encontra o nervo certo: com torcida, ódio, teorias e medo do que acontece quando a ficção encosta demais na realidade. A cena da sabotagem promete ser daqueles momentos que se comenta no dia seguinte, no trabalho e no grupo da família, por um motivo simples: qualquer um entende o tamanho do risco quando um remédio vira arma.

Num ponto, porém, a novela é cristalina. Crime é crime. E quando envolve gestantes, dobra de gravidade. A partir daí, o roteiro tem caminhos possíveis: investigação paralela, confissão arrancada, ou um erro operacional que salva Solange por detalhe. O folhetim gosta de surpresa, mas não costuma desperdiçar armas de cena. Se a insulina entrou na história, ela volta.

Entre a necessidade de choque e a responsabilidade com o público, o remake encontra um equilíbrio raro: mostra a maldade sem glamour, dá contexto médico sem manual e distribui consequências. O resultado é um retrato duro de uma vilã que perdeu o freio e de um ambiente onde dinheiro e sobrenome compram silêncio — até o dia em que alguém decide falar.

No fim das contas, é isso que mantém Vale Tudo pulsando décadas depois: personagens que atravessam o tempo porque encaram de frente perguntas que o país não resolve. Quem mente por proteção vira alvo do próprio veneno. Quem usa o outro como degrau descobre que todo atalho cobra pedágio. E quem mexe com vida — a própria ou a dos outros — paga caro quando a casa cai.

Maria Cardoso

Trabalho como jornalista de notícias e adoro escrever sobre os temas do dia a dia no Brasil. Minha paixão é informar e envolver-me com os leitores através de histórias relevantes e impactantes.

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