
Em noite de altitude e nervos, a Bolívia derruba o Brasil e carimba a repescagem
Num estádio a mais de 4 mil metros acima do nível do mar e com a bola correndo curta, a Bolívia fez o que parecia improvável: venceu o Brasil por 1 a 0, em El Alto, e garantiu vaga na repescagem intercontinental para a Copa do Mundo de 2026. O gol saiu ainda no primeiro tempo, em cobrança de pênalti de Miguel Terceros, e o time da casa defendeu o resultado com unhas e dentes até o apito final. Para completar a noite, a vitória da Colômbia sobre a Venezuela ajudou a selar o lugar boliviano no mata-mata.
Era a 18ª e última rodada das Eliminatórias sul-americanas, com o Brasil entrando como favorito, mesmo num ciclo irregular. Só que o roteiro ignorou a lógica: a seleção boliviana foi compacta, disciplinada e quase perfeita no que se propôs a fazer. Quando a linha de quatro não dava conta, quem aparecia era Carlos Lampe, veterano goleiro que se agigantou com defesas pesadas — incluindo um chute forte de Raphinha, de fora da área, nos minutos finais.
O Estadio Municipal de El Alto, cheio e barulhento, pesou. A altitude cobrou seu preço, principalmente no segundo tempo, quando o Brasil aumentou o volume, e as transições viraram um teste de resistência. Mesmo com seis minutos de acréscimos, a Bolívia travou a partida, ganhou tempo nas divididas e cortou tudo pelo alto. O apito final veio com alívio para um lado e frustração para o outro.
Para o torcedor, foi um daqueles jogos em que o detalhe decide. A Bolívia soube transformar um pênalti em ouro e defendeu essa vantagem como se fosse título — e, para o contexto, quase foi. A vaga na repescagem é gigante para um time que terminou com saldo de gols negativo, mas somou pontos vitais em casa, onde costuma ser mais forte. Do outro lado, o Brasil fechou em 5º lugar, posição que, no formato atual da CONMEBOL, dá vaga direta ao Mundial. É classificação, sim, mas com sinais amarelos no caminho.
Como o jogo se decidiu e o que muda na tabela
O primeiro tempo teve cara de jogo de Eliminatórias na altitude: ritmo alternado, muitas faltas e poucas chances claras. O Brasil tentou manter a bola no chão para fugir do desgaste, mas esbarrou num bloqueio montado com paciência pelos bolivianos. Em uma transição rápida, a defesa brasileira foi pega de frente, a jogada entrou na área e o pênalti foi assinalado. Miguel Terceros bateu com frieza e colocou os donos da casa na frente.
Daí em diante, a Bolívia baixou as linhas e acalmou o jogo. Os meias fecharam os corredores por dentro, empurrando o Brasil para as laterais. A seleção brasileira cruzou, buscou inversões, tentou jogo entrelinhas, mas os zagueiros bolivianos limparam quase tudo. Quando a bola passou, deu Lampe. O goleiro travou o duelo contra os atacantes brasileiros e cresceu ainda mais no fim, quando o time visitante lançou todo mundo ao ataque.
O segundo tempo foi praticamente um ataque contra defesa. O Brasil adiantou a marcação, aumentou a intensidade e bombardeou a área, mas sem a clareza necessária para quebrar a última linha. A cada retomada, a Bolívia tentava esticar o jogo para ganhar respiro. Câimbras apareceram, substituições seguraram o ritmo e o relógio correu a favor dos mandantes. Nos acréscimos, Lampe salvou de novo, e a defesa travou finalizações que pareciam com endereço certo.
- Gol: Miguel Terceros, de pênalti, no primeiro tempo.
- Protagonista: Carlos Lampe, decisivo com defesas em momentos críticos.
- Clima do jogo: truncado, físico e com vantagem técnica brasileira neutralizada pela organização boliviana.
- Desfecho: seis minutos de acréscimos, pressão brasileira e alívio boliviano ao apito final.
O impacto na tabela foi imediato. A Bolívia chegou a 20 pontos e garantiu a vaga na repescagem intercontinental, beneficiada também pelo triunfo da Colômbia sobre a Venezuela. É um marco para o futebol boliviano, que fecha as Eliminatórias em alta, aproveitando ao máximo o fator casa e a resiliência defensiva no momento mais tenso do torneio.
Do lado brasileiro, o 5º lugar com 28 pontos mantém a seleção no grupo dos classificados diretos. O número em si não causa pânico, mas a forma preocupa. Em vários jogos do ciclo, o Brasil oscilou entre bons momentos e quedas de desempenho, especialmente na criação contra defesas baixas e na proteção contra contra-ataques. Em El Alto, esse mix reapareceu: volume de jogo, sim; precisão na última bola, não.
Há um fator que ninguém ignora: jogar em El Alto não é jogar em qualquer lugar. A altitude afeta a leitura de tempo de bola, a recuperação física e até a tomada de decisão. A Bolívia sabe trabalhar esse cenário como poucos. Segurou a pressão, distribuiu faltas táticas e reduziu os espaços no terço final. Fez o jogo ser jogado nas suas condições. Para o Brasil, que costuma impor ritmo e qualidade técnica, isso virou armadilha.
Alguns personagens saem maiores. Miguel Terceros, jovem e frio, mostrou personalidade na cobrança do pênalti e no trabalho sem a bola. Carlos Lampe reforçou a imagem de goleiro de partidas grandes, não só por reflexo, mas pelo comando da área e pelas escolhas certas na saída. Do lado brasileiro, Raphinha foi quem mais insistiu nas ações individuais e finalizações de média distância, encontrando um paredão pela frente.
A repescagem intercontinental, agora, vira o grande foco boliviano. O formato da FIFA prevê um mata-mata curto, contra adversários de outras confederações, em data FIFA. É um degrau alto, mas não intransponível, especialmente se a equipe mantiver a organização e o poder de competir que mostrou em El Alto. Com o apoio da sua torcida e um plano de jogo realista, a Bolívia adicionou esperança ao calendário de 2026.
Para o Brasil, fica a lição: manter a vaga direta não basta quando o teto é lutar por título mundial. A comissão técnica terá tempo para ajustar ideias, calibrar o meio-campo e encontrar formas de acelerar a criação sem se expor tanto aos contra-ataques. O material humano é forte, mas a competição sul-americana não perdoa desconcentração. O recado veio claro nas montanhas de El Alto.
No fim, o placar resume uma noite de intenções bem executadas. A Bolívia foi objetiva, paciente e eficiente. O Brasil foi intenso, mas previsível. E num duelo como Bolívia x Brasil, quando a montanha joga, quem erra menos leva.
Maria Cardoso
Trabalho como jornalista de notícias e adoro escrever sobre os temas do dia a dia no Brasil. Minha paixão é informar e envolver-me com os leitores através de histórias relevantes e impactantes.
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