Estudante negro baleado por policial aposentado no Rio: caso desperta debate sobre racismo e violência policial
28 set

Na madrugada de 24 de fevereiro de 2025, Igor Melo de Carvalho, de 31 anos, vivenciou o que nenhum estudante gostaria de imaginar: ser vítima de tiro de um policial aposentado. O jornalista em formação, negro e morador da Zona Norte do Rio, voltava de um turno como garçom em uma casa de samba quando seu trajeto de moto‑táxi virou cenário de violência.

Após encerrar o serviço, Igor solicitou, via aplicativo, um moto‑taxista. O condutor que atendeu ao pedido foi Thiago Marques Gonçalves, 24 anos. Por volta das 01h30, o casal foi abordado por Carlos Alberto de Jesus, antigo militar da polícia, que, segundo relato, reagiu ao ser informado por sua esposa, Josilene da Silva Souza, de que o duo teria subtraído seu celular.

O disparo e a confusão inicial

Sem que a suposta identificação fosse confirmada, o oficial retirou a arma e disparou contra a moto. Igor foi atingido nas costas, sofrendo lesões graves no rim, baço, intestino e estômago. A gravidade foi tanta que o estudante perdeu o rim direito e precisou passar por cirurgia de emergência.

Na tentativa de fugir dos disparos, ambos saltaram de um viaduto. A comunidade ao redor ajudou a arrastar Igor até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde ficou em estado crítico por dias. Enquanto isso, a polícia local prendeu Igor e Thiago sob acusação de roubo, apesar da evidente ausência de provas.

O juiz que analisou o caso rapidamente revogou a prisão. As investigações apontaram falhas nas provas, além de testemunhos contraditórios que mostraram que o casal jamais esteve envolvido no furto relatado por Josilene. O erro de identificação foi classificado como "imprudente e incorreto" pela Polícia Civil.

Desdobramentos judiciais e o eco social

Desdobramentos judiciais e o eco social

O Ministério Público solicitou a prisão de Carlos Alberto de Jesus, que foi indiciado por tentativa de homicídio contra Igor e Thiago. A esposa do agente, Josilene, recebeu acusação de falsa denúncia. O caso ganhou destaque nacional quando Igor concedeu entrevista ao programa "Fantástico", do TV Globo, questionando: "Qual crime cometi? O de trabalhar? O de ser negro? O de estar na moto de madrugada?".

A repercussão foi imediata nas redes sociais e meios de comunicação. Organizações de direitos humanos e movimentos antirracismo utilizaram o caso para denunciar o violência policial contra a população negra, especialmente em áreas periféricas do Rio de Janeiro. Manifestantes apontaram que a prática de profiling racial não é exceção, mas parte de um padrão que tem raízes históricas e estruturais.

  • Igor foi liberado do hospital em 2 de março de 2025, mas ainda enfrenta recuperação física e traumas psicológicos.
  • Thiago, o moto‑taxista, também recebeu alta, porém permanece com sequelas devido ao choque.
  • O agente aposentado permanece à espera de julgamento, enquanto sua esposa responde por falsa acusação.
  • O Ministério Público recomenda revisão de protocolos de abordagem e de uso de força letal por ex‑policiais.

Do ponto de vista jurídico, o episódio evidencia lacunas na responsabilização de agentes de segurança que já deixaram o serviço ativo, mas que ainda mantêm acesso a armamento. A Lei de Uso da Força, ainda em fase de discussão no Congresso, poderia estabelecer limites mais claros para situações de suspeita, reduzindo a margem de erro que termina em tragédias como esta.

Para Igor, o futuro ainda está em construção. Ele pretende retomar os estudos em jornalismo e, segundo ele, usar a própria experiência para denunciar abusos e promover mudanças. Seu relato serve como prova viva de que o simples fato de ser negro e estar em uma moto ao amanhecer ainda pode ser interpretado como ameaça, alimentando um ciclo de violência que precisa ser quebrado.

Enquanto o caso segue nos tribunais, a sociedade acompanha com atenção, exigindo respostas concretas das autoridades e reforçando a necessidade de políticas públicas que combatam o racismo institucional e garantam segurança sem perpetuar o medo.

Maria Cardoso

Trabalho como jornalista de notícias e adoro escrever sobre os temas do dia a dia no Brasil. Minha paixão é informar e envolver-me com os leitores através de histórias relevantes e impactantes.

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20 Comentários

Nessa Rodrigues

  • setembro 29, 2025 AT 17:31

Isso aqui é o Brasil de verdade, onde um jovem que só quer trabalhar e estudar vira suspeito por ter pele escura e andar de moto.
Isso não é erro, é sistema.

Priscila Ribeiro

  • setembro 30, 2025 AT 21:19

Se o Igor conseguir se recuperar e seguir com o jornalismo, ele vai ser uma voz poderosa.
Esse cara já venceu só por estar vivo.

João Paulo S. dos Santos

  • outubro 1, 2025 AT 05:02

Eu tô no Rio, já vi isso acontecer mais de uma vez.
Policial aposentado com arma? É como dar faca pra criança.
Não adianta só prender, tem que tirar arma de todo mundo que saiu da polícia.

Isabelle Souza

  • outubro 3, 2025 AT 01:19

É curioso como a sociedade aceita que um homem branco, aposentado, com histórico militar, possa decidir quem é perigoso - e depois, com a mesma mão, apontar uma arma.
Isso não é justiça, é uma continuação do colonialismo com farda.
Quando você nasce preto no Brasil, o mundo já te acusa antes de você falar uma palavra.
Esse caso não é exceção, é a regra disfarçada de acaso.
Se o Igor tivesse sido branco, teria sido abordado com educação, talvez até oferecido um café.
Mas ele é preto, está na moto, à noite - e isso, pra alguns, já é crime suficiente.
É como se a cor da pele tivesse um código de barras que lê: "perigo".
Quem criou esse código? Quem o mantém? Quem se beneficia dele?
As pessoas que gritam "não é racismo, é segurança" nunca precisaram se preocupar em serem vistas como ameaça por andar em casa própria.
Esse é o peso invisível que os negros carregam desde que nasceram.
E não é só no Rio. É em São Paulo, em Belém, em Recife.
É em cada esquina, em cada posto de gasolina, em cada viaduto.
Se o sistema não mudar, mais Igor vão surgir.
E cada um deles será um espelho que a sociedade se recusa a encarar.
Porque encarar é doloroso.
E dor é inconveniente.

thiago oliveira

  • outubro 4, 2025 AT 15:02

Na verdade, o policial só reagiu a uma denúncia legítima. A mulher dele perdeu o celular, e ele agiu de acordo com o que acreditava ser uma situação de risco. O fato de o jovem ser negro não altera a veracidade da acusação.
Se o caso tivesse ocorrido com um branco, a reação seria a mesma - o problema é a narrativa manipulada pela mídia.

Ana Carolina Nesello Siqueira

  • outubro 6, 2025 AT 12:43

OH MEU DEUS. VOCÊS SABEM O QUE ISSO REPRESENTA?!
É como se o próprio tempo tivesse parado e o Brasil tivesse voltado a 1964, mas com celular e moto-táxi!
Um jovem negro, estudante, trabalhador, sendo atingido por um ex-policial que vive no passado...
É um drama shakespeariano, mas com armas e sem atores profissionais.
E a esposa? A pobre mulher, acreditando ter perdido o celular, só queria proteger o que era dela - e agora é vilã? Mas e o trauma dela?!
Quem vai cuidar do coração dela?!
Enquanto isso, Igor, meu querido, você é um herói moderno, um poeta do sofrimento, um ícone da resistência negra!
Seu olhar no Fantástico... me fez chorar no metrô.
Se isso não virar série da Netflix, eu me mudo para a Lua.

Leandro Pessoa

  • outubro 7, 2025 AT 09:38

Se o cara tivesse sido branco, ninguém ia falar nada.
Todo mundo aceita que policial aposentado pode ter arma, mas não aceita que negro ande de moto à noite.
Isso é racismo disfarçado de lei.

valdete gomes silva

  • outubro 8, 2025 AT 09:50

Essa história é mentira. Todo mundo sabe que moto-táxi é sinônimo de assalto.
Se o jovem não tinha nada a esconder, por que pulou do viaduto?
É só mais um preto tentando se livrar da justiça.
E agora querem transformar ele em mártir? Pode isso?

Nat Vlc

  • outubro 8, 2025 AT 22:23

Isso é triste, mas não é único.
Se a gente começar a olhar pra cada esquina, a gente vê que isso tá acontecendo o tempo todo.
Se a gente fizer algo, mesmo que pequeno, já é um começo.

felipe sousa

  • outubro 10, 2025 AT 15:57

Brasil é caos. Preto é suspeito. Ponto.
Se não quiser ser baleado, não ande de moto.
Respeite a lei. Não seja estatística.

Ernany Rosado

  • outubro 10, 2025 AT 17:05

isso é um absurdo msm
meu irmão tbm é moto taxista e todo dia leva olhares de suspeita
se for preto e tiver moto? já é ladrão na cabeça de muita gente
quem ta errado é o sistema, não o igor

Leila Swinbourne

  • outubro 12, 2025 AT 16:04

Isso é um massacre simbólico. Um jovem negro, que trabalha, estuda, e ainda assim é tratado como criminoso - não por ações, mas por existência.
Essa não é uma história de violência policial. É uma história de violência racial institucionalizada.
Quando um ex-policial, com acesso a armas, decide quem é perigoso, ele não está protegendo a sociedade - ele está atuando como juiz, júri e carrasco.
Se o Brasil quer se dizer democrático, precisa parar de criminalizar a cor da pele.
Se o Igor não tivesse sido negro, ele estaria naquela moto com um café na mão, e ninguém ligaria.
Mas ele é negro. E isso, para muitos, já é motivo suficiente para um tiro.
As autoridades querem apagar isso com promessas de revisão de protocolos.
Mas protocolos não curam traumas. Protocolos não devolvem rins. Protocolos não apagam o medo que uma mãe sente quando seu filho sai de casa à noite.
Isso não é um caso isolado. É a ponta de um iceberg de sangue e silêncio.
Se a mídia só fala quando tem um vídeo, então a vida de um negro só vale quando é filmada.
E mesmo assim, o que acontece depois? O agente é indiciado, mas a estrutura permanece.
Até quando vamos aceitar que o corpo negro é um território de guerra?

Matheus Alvarez

  • outubro 14, 2025 AT 12:40

É a mesma velha história: o branco se sente no direito de julgar a existência do negro.
Essa é a verdadeira guerra civil que o Brasil nunca admitiu.
Se você não é branco, você não tem direito à inocência.
Isso não é acidente. É herança.

Miguel Oliveira

  • outubro 15, 2025 AT 18:26

ele pulou do viaduto? entao ta tudo certo
quem e inocente nao foge
so preto que fuge
se tivesse sido branco, ia esperar a poli

eduardo rover mendes

  • outubro 17, 2025 AT 15:16

Se a polícia não tem controle sobre ex-agentes armados, o problema é estrutural, não individual.
Na Suécia, ex-policias não têm permissão para portar armas depois da aposentadoria.
Na Alemanha, é obrigatório o treinamento contínuo e a avaliação psicológica.
No Brasil, você se aposenta, pega a arma, e vira um vigilante autoproclamado.
Isso não é segurança, é caos legalizado.
E o pior? A sociedade aceita, porque o negro é visto como o "outro" - e o "outro" não merece proteção, só controle.
Se o Igor fosse um engenheiro branco de São Paulo, o caso teria sido resolvido com uma desculpa e um café.
Mas ele é um estudante negro do Rio. E isso muda tudo.

Allan Fabrykant

  • outubro 19, 2025 AT 03:58

Todo mundo tá esquecendo do ponto principal: a mulher dele perdeu o celular. E aí? O que ele fez? Disparou? Sim. Mas será que ele não teve medo? Será que ele não pensou que era um assalto? Será que a sociedade não tá sendo injusta com ele só porque ele é branco e ex-policial? E se o jovem tivesse sido o assaltante? Aí seria justiça? Não, seria tragédia. Mas agora é tragédia só porque o jovem é negro? Isso é inversão de valores. A vítima é o ex-policial, que agiu por instinto. A sociedade tá usando o caso pra atacar homens brancos, e não pra resolver o problema real: roubo de celular e falta de segurança. Se o Igor tivesse um celular de R$500, ele não teria sido abordado? Aí é problema do celular, não da cor da pele. O racismo tá sendo usado como arma política, e isso é perigoso. A gente precisa de justiça, não de vitimização seletiva.

Nayane Bastos

  • outubro 19, 2025 AT 18:49

Isso me lembra quando meu irmão foi abordado por um segurança da porta de um shopping, só porque estava de moletom.
Ele tinha um certificado de estágio na mão, e ainda assim foi tratado como ladrão.
Não é sobre o que você tem, é sobre quem você parece.
Eu não quero que ninguém se sinta culpado.
Quero que a gente veja isso e decida: isso aqui não pode continuar.

Thalita Gomes

  • outubro 20, 2025 AT 22:15

Se você quer entender o racismo no Brasil, basta olhar como o sistema reage quando um negro é vítima.
Primeiro, desconfiam dele.
Depois, tentam culpar ele.
Por fim, exigem que ele seja grato por ainda estar vivo.
Isso não é justiça. É sobrevivência.

Francis Tañajura

  • outubro 21, 2025 AT 04:41

Essa história é uma farsa montada pela esquerda. O policial aposentado fez o que qualquer cidadão faria: protegeu sua propriedade. O jovem fugiu, então foi atingido. Se ele não tivesse cometido o crime, por que fugiu? Por que não esperou a polícia? Porque é preto e sabe que a polícia não confia nele. Mas isso não torna o policial culpado. Isso torna o jovem um criminoso que escapou da justiça. A mídia está manipulando isso pra criar um mártir. E o pior: a sociedade está caindo nessa. Eles querem que a gente odeie o branco. Mas o branco também é vítima desse sistema. O branco que se aposenta e vira alvo de ódio por defender sua casa? Isso é injusto. O problema não é a cor da pele. É a mentalidade de vitimização que está destruindo o país.

Renan Furlan

  • outubro 21, 2025 AT 13:23

Se você é pai, mãe, irmão ou amigo de alguém negro, já passou por isso.
Se não passou, é porque ainda não teve que se preocupar.
Esse caso é um alerta. Não um drama. Um alerta.
Se a gente não mudar, mais um vai morrer.
E o próximo pode ser seu filho.

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