
O inflação brasileira registrou alta de 0,48% em setembro de 2025, segundo a divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã de 9 de outubro, no Rio de Janeiro. O índice, que mede a variação de preços ao consumidor, acabou revertendo a deflação de 0,11% observada em agosto, provocando surpresa entre analistas e investidores.
Contexto da inflação no Brasil em 2025
Desde o início do ano, a economia tem navegado entre pressão interna e choques externos. O ano até agora acumula alta de 3,64% no IPCA, mas o acumulado de 12 meses já ultrapassa 5,17%, bem acima da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), que varia entre 1,5% e 4,5%. A meta tem sido violada nos últimos seis meses consecutivos, o que, segundo a regra da meta contínua, caracteriza descumprimento.
Além da alta geral, alguns grupos de consumo mostraram comportamento heterogêneo. Enquanto vestuário e despesas pessoais subiram, setores como alimentação e bebidas recuaram. Essa disparidade tem alimentado o debate sobre a eficácia da política monetária adotada pelo Banco Central.
Dados detalhados do IPCA de setembro 2025
O grupo que mais puxou a alta foi o Habitação, que avançou 2,97% e acrescentou 0,45 ponto percentual ao índice geral. Dentro desse grupo, a energia elétrica residencial surpreendeu: após queda de 4,21% em agosto, registrou aumento de 10,31% em setembro, contribuindo com 0,41 ponto percentual para a inflação. O IBGE explicou que o salto se deve ao fim do Bônus de Itaipu nas faturas, medida que havia reduzido custos nos meses anteriores.
Outros setores com alta foram:
- Vestuário: 0,63%
- Despesas Pessoais: 0,51%
- Saúde e Cuidados Pessoais: 0,17%
- Educação: 0,07%
- Transportes: 0,01%
Já a queda aconteceu em alimentação e bebidas (-0,26%), artigos de residência (-0,40%) e comunicação (-0,17%). A inflação de serviços desacelerou para 0,13%, enquanto a de bens industriais manteve ritmo quase nulo (0,05%).
Reação dos mercados financeiros
Logo após a divulgação, as taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DI) baixaram, embora os rendimentos dos Treasuries norte‑americanos continuassem em alta. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve início de sessão positivo, subindo 0,37% aos 10h07 e alcançando 142.669,25 pontos. No entanto, a volatilidade notou‑se ao longo do dia, com máxima de 143.212,02 pontos e mínima de 142.090,52 pontos, fechando com leve alta de 0,12% (142.309,48). O volume negociado girou em torno de R$4,24 bilhões às 11h25.
Declarações e estratégia do Banco Central
Durante a manhã, em evento na São Paulo, Nilton José David, diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil, reforçou que a taxa Selic permanecerá em 15% por um período prolongado, como medida necessária para ancorar a inflação à meta. "Não descartamos um aumento futuro, mas a prioridade agora é consolidar a credibilidade da política", declarou.
O "+Daycoval"Daycoval, em relatório pós‑IPCA, apontou: "Apesar da surpresa benigna, o cenário ainda exige cautela. Mantemos a projeção de Selic em 15% até o fim de 2025".

Implicações políticas e perspectivas futuras
O dia anterior à divulgação, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu revés na Câmara dos Deputados, que retirou de pauta a Medida Provisória 1303 – proposta de taxação de aplicações financeiras que visava aliviar as contas públicas em 2026. O episódio aumentou a pressão sobre o BC, que precisa balancear o combate à inflação com a manutenção de um ambiente fiscal estável.
Enquanto isso, o presidente do IBGE, José da Costa Carvalho Neto, limitou‑se a divulgar os números, sem emitir comentários adicionais. Analistas apontam que, se a tendência de alta em habitação persistir, o Banco Central poderá rever a estratégia antes do final do ano, sobretudo se a energia elétrica permanecer volátil.
Em síntese, o IPCA de setembro sinaliza que, embora a inflação tenha desacelerado em relação a agosto, ainda há forças de alta que podem complicar o caminho para a meta. O próximo relatório, previsto para outubro, será crucial para determinar se a política monetária permanecerá rígida ou se haverá espaço para ajustes.
Principais números do IPCA de setembro 2025
- Variação mensal: 0,48%
- Acumulado em 2025: 3,64%
- Acumulado em 12 meses: 5,17% (meta CMN: 1,5%‑4,5%)
- Habitação: +2,97% (energia elétrica +10,31%)
- Expectativa de mercado (Reuters): 0,55%
Perguntas Frequentes
Como a alta da energia elétrica residencial afetou o IPCA?
A energia elétrica residencial registrou aumento de 10,31% em setembro, revertendo a queda de 4,21% de agosto. Esse salto sozinho acrescentou 0,41 ponto percentual ao IPCA, tornando‑se o principal motor da alta no grupo Habitação.
Qual a expectativa para a taxa Selic nos próximos meses?
Nilton José David indicou que a Selic permanecerá em 15% por tempo indeterminado, mas o Banco Central não descartou elevações caso a inflação não converja para a meta. Relatórios como o do Daycoval mantêm a projeção de Selic em 15% até o fim de 2025.
O que a retirada da MP 1303 da pauta implica para a economia?
A MP 1303 visava tributar aplicações financeiras para melhorar as contas públicas em 2026. Sua retirada reduz temporariamente a arrecadação esperada, intensificando o debate sobre ajustes fiscais e potencialmente pressionando o Banco Central a manter política monetária mais restritiva.
Quais setores apresentaram queda no IPCA de setembro?
Alimentação e Bebidas (-0,26%), Artigos de Residência (-0,40%) e Comunicação (-0,17%) foram os principais grupos que puxaram a inflação para baixo, compensando parte da alta em habitação e vestuário.
Qual a perspectiva dos analistas para o próximo IPCA?
Analistas esperam que a inflação de setembro seja um ponto de inflexão. Se a energia elétrica mantiver alta e a habitação continuar pressionando, a tendência pode ser de novo aumento. Caso os preços de alimentos estabilizem, a pressão pode aliviar, permitindo ao BC manter a Selic sem ajustes.
Maria Cardoso
Trabalho como jornalista de notícias e adoro escrever sobre os temas do dia a dia no Brasil. Minha paixão é informar e envolver-me com os leitores através de histórias relevantes e impactantes.
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Thalita Gonçalves
O mais recente dado do IPCA revela, de maneira inequívoca, que a política monetária ainda não conseguiu alcançar a ancoragem desejada, evidenciando falhas graves no planejamento macroeconômico adotado pelos governantes atuais. A disparada de 2,97% no grupo Habitação demonstra, de forma contundente, que os incentivos fiscais insuficientes e a moradia inadequada continuam a pesar sobre o bolso do cidadão brasileiro. Ademais, o salto de 10,31% na conta de energia elétrica, atribuído ao fim do Bônus de Itaipu, ilustra a vulnerabilidade do país diante de decisões de política energética mal calibradas. É impossível ignorar que tal volatilidade abala a confiança dos investidores, que já demonstraram relutância em alocar recursos em ativos nacionais. O Banco Central, ao manter a Selic em 15% por um período prolongado, parece estar mais preocupado em preservar a imagem institucional do que em promover um crescimento sustentado. Não há como dissociar a rigidez da taxa de juros das crescentes exigências populacionais por moradia digna e energia acessível. O mercado de capitais, ao reagir com leve alta no Ibovespa, indica que a confiança ainda persiste, porém sujeita a correções abruptas. A política fiscal, ao falhar em aprovar a MP 1303, demonstra uma falta de coerência entre medidas de arrecadação e metas de controle inflacionário. A continuidade da Selic elevada pode, portanto, gerar um efeito de arraste sobre a demanda agregada, aprofundando o abismo entre renda real e custos de consumo. É imperativo que o governo implemente reformas estruturais que garantam segurança energética e habitacional, de modo a mitigar pressões inflacionárias persistentes. Caso contrário, o país corre o risco de entrar em um ciclo vicioso de alta de preços e aumento da taxa de juros, prejudicando a competitividade internacional. A análise dos indicadores aponta, ainda, que a desaceleração observada em setores como alimentação e bebidas pode ser apenas temporária, sendo facilmente revertida por shocks externos. Por conseguinte, a política monetária deve ser flexível o suficiente para responder a esses movimentos sem sacrificar a estabilidade macroeconômica. A falta de transparência nas decisões do Banco Central pode gerar desconfiança ainda maior entre os agentes econômicos. Em síntese, a conjuntura atual exige medidas coordenadas entre política fiscal, monetária e setorial, com foco em garantir a estabilidade de preços e a proteção do consumidor. Apenas assim será possível restaurar a credibilidade institucional e estimular um ambiente de crescimento sustentável.